Os dois extremos
Dançar. Era tudo o que ele conseguia fazer naquele momento. Ele mexia seu corpo magro de uma forma onde os outros que estavam por perto se admiravam com o jeito que seus braços conseguiam se mover sem derrubar a dose de Absolut que estava em suas mãos.
Tudo estava bem, ele estava um pouco alto, mas ainda sentindo o que estava fazendo. Dirigiu-se ao bar para pedir mais um drink quando um cara, de mais ou menos vinte e poucos anos apareceu.
- E aí gato. Posso te pagar uma bebida? – disse um cara alto e forte, cabelos castanhos e olhos negros. Sua feição parecia de alguém que estava em um estado de transe.
- Claro que pode – replicou Adrien Goldmann de imediato. Virou-se para o barman e gritou – QUERO DUAS DOSES DE ABSINTO NO CAPRICHO!
O barman serviu as duas doses, bem caprichadas como havia pedido Adrien, logo eles começaram a beber e conversar. A conversa se transformou em dança, ficaram por volta de uns quinze minutos na pista, quando o cara disse bem no ouvido de Adrien:
- Vamos pro banheiro, tenho uma coisa pra você! – Adrien entendera o recado, então ele o seguiu e chegaram ao banheiro.
Era um lugar particularmente sujo, era um banheiro espaçoso, com vários boxes, nas paredes azulejos brancos e azuis, formando um desenho estranho, abstrato, sem forma definida. Adrien escolheu o último box, o mais longe da entrada possível, verificou se não estava vomitado ou defecado, depois pegou o cara pela camiseta e o jogou para dentro, ele entrou e trancou os dois.
- O que você tem aí para mim? – disse em um tom de exigência, e olhando firmemente para o bolso da calça do homem que estava na sua frente.
- Calma gatinho, já estou tirando do bolso – o tom de êxtase em sua voz foi nítido, então ele sacou do bolso um plástico pequeno, parecido com um pequeno saco com um conteúdo branco, entregou-o na mão de Adrien, que olhou fixamente para se certificar de que era aquilo que ele estava pensando. Quando finalmente ele identificou o que era, deu um sorriso grande, era o ápice da noite.
Depois da última carreira, Adrien fitou o cara, que estava encostado na parede ao lado do vaso, colocou suas mãos em sua cintura e lhe deu um beijo na boca. Após um beijo longo e digamos que levemente agressivo, ele soltou os lábios do homem que ele ainda nem perguntara o nome e disse:
- Meu nome é Adrien Goldmann – o homem fez uma cara de espanto, e ele percebera, então abaixou a cabeça por uns instantes, levantou-a rapidamente, fixou os olhos nas pupilas extremamente negras do cara e murmurou: – Por que todo esse espanto, só porque eu sou o Herdeiro? – ele deu risadinhas bêbadas – Só porque eu vou ter que cuidar daquela porcaria de banco quando o velho do meu pai bater as botas? É isso? – seu humor se alterou profundamente, até que o cara decidiu se pronunciar.
- Certamente, isso não é um lugar pra você, esse é o último lugar em Londres que você poderia estar. Essa boate nem é tão chique assim...
- CALA A BOCA! – interrompeu-o – Não quero mais falar com você. A propósito, qual é o seu nome? – a crise histérica momentânea tinha passado.
- Simplesmente não interessa. – o cara o tirou de sua frente, abriu a porta do box, e como um sopro, se foi.
O desejo de Adrien foi segui-lo, mas a bebedeira misturada com o pó não o deixara fazer isso, ele sentou no vaso e encostou a cabeça na parede, estava pensando no que falara para o cara que nunca tinha visto na vida, foi estupidamente grosseiro com o homem que o dera a diversão da noite. Adrien se arrependeu.
Levantou-se e saiu do banheiro, ao abrir a porta deu de cara com uma garota alterada carregada por um amigo, ela o fitou, quando virou as costas vomitou no chão. Adrien procurou o homem a quem devia desculpas em todos os cantos da boate, mas não o achou, foi até o bar e pedira mais um drink, o último da noite.
Quando terminara de beber pagou o que devia e saiu. Chegou no estacionamento trançando as pernas de um jeito incomum. Procurava seu carro e achou, era uma Ferrari Califórnia amarela, que ganhara em seu vigésimo aniversário. Desativou o alarme e entrou, ficou sentado alguns minutos com a cabeça encostada no volante, quando se sentiu melhor para dirigir, ligou o carro e partiu.
Ele saiu do estacionamento da boate a toda velocidade, com o som no último volume, estava ouvindo Billy Idol, Dancing with Myself, gritando a música com todo o ar que tinha em seus pulmões, parecia nem dar atenção ao que estava fazendo naquele exato momento. Dirigindo.
Chegara a sua casa por volta das quatro e meia da manhã, o sol ainda não tinha nascido, Adrien parou seu carro na frente dos portões, que tinham uma forma bastante incomum, eram em forma de grandes ondas prateadas e as pilastras que o sustentavam eram em mármore branco, nos portões estava escrito em ouro puro Goldmann, Adrien colocou a cabeça para fora e gritou para o segurança que estava mais próximo:
- Vocês vão demorar mais quanto tempo para abrir essa merda de portão?
O segurança olhara com uma cara feia para o patrãozinho, mas obediente entrou em uma cabine atrás dos muros próximo ao portão, apertou um botão cinza e os portões se abriram.
O carro entrou e seguiu um longo caminho até o que parecia ser uma garagem subterrânea, embaixo de uma grande mansão. Adrien parou o carro, desceu, e trançando as pernas subira uma escada que estava à frente do automóvel.
A escada dava exatamente numa salinha ao lado da cozinha, ele passara por lá se apoiando nos armários e no fogão, chegou à sala de entrada da casa, onde tinha uma escada que dava para os cômodos de cima. Subiu e se dirigiu à uma porta, onde seria seu quarto, girou a maçaneta e entrou. Não tirara a roupa nem nada dos bolsos, apenas caiu na cama e dormiu.
Às seis da manhã em ponto o despertador toca, e Ryan Dawson levanta. Dirigiu-se para o banheiro onde fizera suas necessidades fisiológicas e escovara os dentes. Voltou para o quarto, onde abriu seu guarda roupas e escolhera uma camiseta de mangas longas listradas em vermelho e preto, um suéter que combinasse e um jeans skinny bem apertado. Pegou sua mochila que estava em uma cadeira ao lado de sua escrivaninha e desceu em direção à cozinha.
A casa estava muito silenciosa, não havia ninguém no cômodo, como de costume a essa hora da manhã. A única coisa que estava lá que habitualmente nunca estava era um bilhete escrito nas letras rápidas de seu irmão.
Bro, eu, mamãe e papai precisamos ir ver a vovó na casa dela. Ela passou muito mal essa noite, a gente saiu logo que você chegou do trabalho. Voltamos a noite, ou talvez só amanhã. Mamãe disse que deixou grana pra você em cima da geladeira.
Te amo muito, Bro
Fillip
Ryan lera o bilhete com desgosto, pensando o porquê ninguém se preocupara em lhe chamar para ir ver sua avó, mas deixou passar, porque no fundo ele não iria de qualquer jeito.
Ele abriu a geladeira, pegou o suco de laranja industrializado, serviu-se e saiu. Andou uns trezentos metros até um ponto de ônibus, e como de costume pegara seu IPod e ouvira suas musicas até chegar à escola.
Ao descer do ônibus algumas quadras antes dos portões, Ryan encontrara Carly Keef, uma menina de estatura média, cabelos longos e encaracolados, pele clara e olhos castanhos e muito penetrantes, ela deu um sorriso para o amigo e disse:
- Oi Ryan! – ele dera um sorriso triste e cumprimentara ela com um beijo no rosto – O que aconteceu? Acho que você não está muito bem hoje.
- Ah Carly, não foi nada. Na aula te conto melhor. – e os dois seguiram pelos corredores até a sala de Inglês.
O dia foi passando até que ao meio dia o sinal tocara, era hora de ir embora.
Há alguns quilômetros dali, na casa dos Goldmann, Adrien acordara. De ressaca, se dirige ao banheiro, sentira uma ânsia, mas quando se dirigia ao vaso seu estomago explodira, e ele, vomitara no chão inteiro. Ele se jogou no chão em um ato de desespero, encostou-se à parede e fechou os olhos, quando uma voz feminina, que vinha da porta disse serenamente, mas que soou como gritos na cabeça de Adrien:
-Não encobrirei mais as suas palhaçadas moleque! Estou farta disso!
continua...
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